O filme “Como estrelas na Terra” relata a história de Ishaan, um menino que apresentava muitas dificuldades em ler e escrever e que estava cursando a terceira série pela segunda vez.
O aluno repetia sempre os mesmos erros, não prestava atenção nas aulas e, tanto para os pais como para os professores, Ishaan não conseguia aprender porque era preguiçoso, burro, desobediente e não levava os estudos a sério, talvez porque aparentemente não demonstrasse ter nenhuma deficiência.
Ao ver que Ishaan não conseguia aprender e que provavelmente repetiria o ano outra vez, seus pais resolveram mandá-lo para um colégio interno. No entanto, a situação continuou a mesma, tendo em vista que as queixas dos novos professores eram as mesmas dos anteriores. Contudo, as dificuldades somadas à distância da família agravaram a situação, fazendo com que Ishaan se fechasse e isolasse dos demais.
A vinda de um professor substituto de Artes mudaria a vida do menino. Todavia, este já estava tão contaminado com o olhar negativo dos professores e do próprio pai que nem se interessou por Ram Shankar Nikumbh.
Ram, o novo professor de artes, ao perceber que Ishaan não se envolvia nas atividades propostas resolveu se aproximar do garoto e, não obtendo sucesso, aproximou-se de seu amigo. Ao saber que Ishaan não conseguia aprender a ler e escrever, Ram consultou os seus cadernos que ficavam na escola e foi até a casa de seus pais a fim de conhecer melhor o garoto e suas dificuldades. Chegando lá, constatou que havia um certo padrão, ou seja, Ishaan repetia sempre os mesmos erros, confundia letras similares como b e d, por exemplo, invertia outras e misturava palavras com grafias parecidas. O professor percebeu então que o garoto tinha dislexia.
Voltando ao colégio, Ram pediu ao diretor que permitisse que ele trabalhasse com Ishaan a fim de superar suas dificuldades na leitura e na escrita. Para isto, o professor utilizou a escrita do alfabeto por meio da areia, de pincéis com tintas, dos dedos, da massinha, enfim, trabalhou com atividades concretas para posteriormente utilizar o caderno.
O menino conseguiu superar grande parte das suas dificuldades, aprendeu a ler e escrever e voltou a pintar. Porém, mais do que aprender a ler e escrever, Ishaan aprendeu a sentir prazer em realizar atividades que antes o deixavam entediado, adquiriu autonomia para realizar atividades simples como amarrar os sapatos e aprendeu a viver com maior felicidade, tendo em vista que suas dificuldades não o tornavam menor nem pior que os demais, apenas diferente.
Embora a temática abordada pelo filme não seja nova, ela é extremamente atual, uma vez que, a inclusão constitui um dos temas mais discutidos e combatidos da atualidade.
“A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva tem como objetivo o acesso, a participação e a aprendizagem dos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas escolas regulares, orientando os sistemas de ensino para promover respostas às necessidades educacionais especiais.” Em consonância com este documento, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9.394/96, em seu artigo 58 entende a educação especial como uma modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino para alunos com necessidades especiais.
Tendo em vista as garantias feitas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9.394/96 e pela Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, muito me chamou a atenção o diálogo entre o professor Ram e o diretor da escola, onde o segundo, ao ouvir do primeiro que Ishaan tinha dislexia disse que uma escola especial seria o seu lugar.
Este discurso é ainda muito comum entre professores e gestores que tentam, por vezes, abdicar da responsabilidade que possuem com relação ao processo de ensino e aprendizagem das pessoas com deficiência, algumas vezes por inexperiência, outras por desconhecimento, outras por falta de estrutura e muitas vezes por preconceito e falta de vontade, como se a escola regular fosse feita apenas para alguns.
Ao dizer ao diretor que no mundo, não importam os problemas que tenham, todas as crianças possuem o direito de estudar juntas, em qualquer escola, Ram está apenas repetindo o que a legislação prevê, mas é encarado como se estivesse dizendo um completo absurdo. Por isso disse acima que a inclusão é ainda um dos temas mais combatidos da atualidade.
As salas lotadas, lembradas pelo diretor, realmente dificultam a atenção individual que precisa ser dada aos alunos, mas muitas vezes existem barreiras mais difíceis de serem transpostas.
Para além da demagogia, gostaria de chamar atenção para a atuação do professor temporário que conseguiu perceber as dificuldades do aluno e empenhou-se em superá-las, pois, embora a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva estabeleça uma série de garantias para efetivar o acesso, a participação e a aprendizagem dos alunos, como a acessibilidade e a articulação intersetorial, por exemplo, o que há de mais importante para o processo de inclusão na rede regular de ensino é o olhar do professor, uma vez que, embora hajam espaços e materiais adaptados, não havendo um professor capacitado, que olhe individualmente para os alunos e empenhe-se em seu trabalho por acreditar que todos possuem o direito de frequentar a escola e serem atendidos em suas especificidades por ela, todo o processo fica comprometido.
Assim sendo, o filme Como estrelas na Terra é uma referência para os que pensam sobre o processo de inclusão, tendo em vista que, contemplou elementos reais no roteiro, como a dificuldade da família em identificar e aceitar as dificuldades do filho, a falta de preparo e formação da maior parte dos professores e gestores para lidar com a inclusão, a ausência, em boa parte dos casos, de uma lei que seja praticada e que não fique apenas no discurso, a dificuldade de educar meninos para um mundo cada vez mais competitivo e excludente, a avaliação quantitativa, que nem sempre demonstra o que o aluno sabe, como se o conhecimento pudesse ser medido, a exclusão, que muitas vezes começa dentro de casa, e por fim, a figura de um professor que acolhe e que olha para seus alunos com amorosidade, sendo capaz de enxergar as habilidades que cada um possui.
Fonte http://professorareginacorrea.blogspot.com.br
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